“Pra quê?” perguntava a criança ao professor.
Em seus tantos empregos e anos de profissão, quantas vezes um professor ouviu
essa pergunta? Onde o mundo moderno se orgulhava por ter aviões, trens, milhões
de flores no jardim ou economizar 53 segundos ao buscar água, o Pequeno
Príncipe se indagava pra onde iam com tanta pressa. O assustador era constatar
que o próprio piloto não sabia.
Isso já foi observado por
Chesterton. O perspicaz autor inglês questiona no começo de “Hereges” o
conceito moderno de “eficiência”. Sem um
destino certo, um X no mapa, de que serviria ser mais rápido, mais eficiente?
Tecendo pesadas críticas a Bernard Shaw que tanto defendia o “progresso”, não
via sentido nesse termo sem definir em direção a que se desenrolava esse
progresso. O homem antigo duvidava de sua capacidade, mas não de seu objetivo.
O homem moderno não duvida tanto de sua capacidade, mas não tem um objetivo.
Perguntar “para quê?” em todas essas
ocasiões deve conduzir o indagador a um conjunto de valores e coisas que são
boas e desejáveis em si mesmas. Sem isso não faz sentido buscar sentido. Um
viajante que pegue uma estada em direção a Roma deve ter um objetivo em Roma:
não faz sentido buscar um caminho para um caminho, para um caminho...”Se um
homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável.”
Para que o Pequeno Príncipe queria
aquela flor? Não havia uma razão para além da flor: a própria flor era motivo
pelo qual ele a desejava. Infelizes eram as 40.000 flores que só serviam para
que o dono exibisse seu lindo jardim. É aborrecedor que um jovem em 2015
pergunte “pra quê” alguém quer filhos, quando estes são desejáveis por si
mesmos. “Eu quero filhos pelos filhos, ora.” A fuga teleológica não pode durar:
no fundo ela guarda uma gama de preferências e valores, buscados em si mesmos e
não para outra coisa. Nesse sentido, o capitão óbvio tem razão: precisamos
repetir o óbvio para nos certificarmos de que ele ainda é o óbvio. Esquecê-lo é
colocar fogo em Roma. De que servem foguetes, aviões, metrôs e outros tantos
meios de transportes pra Roma sem Roma?
Ninguém duvida que Auschwitz fosse
eficiente, nem que os alemães tivessem os mais eficientes soldados, médicos,
armas...mas em que direção? Quando a indagação “pra que serve?” antecede “O que
é?”, a própria serventia perde sentido.